quarta-feira, 13 de julho de 2011

Pesquisa relaciona autismo a alimentação

Desenvolvido no programa de pós-graduação Ciência e Tecnologia de Alimentos, estudo observa relação entre hábito e síndrome
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Tratamento alternativo para autismo foi foco de pesquisa na Esalq. O aumento de número de pais que utiliza terapia coadjuvante para o controle dos sintomas nos filhos fez com que pesquisadoras estabelecessem relação entre hábito alimentar e síndrome do espectro autista.

Os tratamentos mais populares são dietas que orientam para a exclusão de alguns alimentos ou grupo de alimentos. Entre as diversas dietas propostas, a mais popular é a isenta de glúten (proteína presente no trigo) e caseína (proteína presente no leite e derivados). Porém, a análise dos estudos que comprovam a eficácia da dieta isenta de glúten e caseína tem sido criticada devido a questões como o desconhecimento de padrão alimentar que possa favorecer o agravamento dos sintomas e ausência de análises laboratoriais que comprovem sua eficácia. Outra hipótese é de que distúrbios do metabolismo da creatina também estão integrados à doença.

“A pesquisa procurou identificar o padrão de hábito alimentar de um grupo de autistas, promover testes para o desenvolvimento de métodos de análises laboratoriais que comprovem a eficiência da dieta isenta de glúten e caseína e identificar a ocorrência de alterações do metabolismo da creatina a partir da análise da concentração de creatina em urina”, assegura Nádia Silva, da pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos. O estudo foi conduzido com 28 autistas de 2 a 33 anos e a triagem ocorreu no Centro Municipal de Especialização do Autista (Cema) de Limeira e no Núcleo de Especialização e Socialização do Autista (Nessa) de Mogi Guaçu.

A pesquisadora revela que, para atingir os objetivos da pesquisa, foi elaborada anamnese nutricional (teste recordatório) contendo questões sobre características demográficas das famílias dos autistas participantes, histórico pessoal de doenças, comportamento do autista nas refeições e levantamento de hábito alimentar. Para caracterizar o quadro clínico, foi realizada avaliação psicológica por método quantitativo.

O registro sobre comportamento alimentar identificou que 50% dos autistas expressam o comportamento de comer muito rápido e 46,43% consomem porções exageradas, o que influencia diretamente no hábito alimentar.

A avaliação de adequação de consumo de nutrientes revelou que 57,14% têm o consumo de energia superior ao recomendado e baixo consumo de fibras, ácido ascórbico e cálcio. Já as análises de concentração de creatinina revelaram que os valores são significativamente inferiores em crianças autistas e do grupo controle, formado por parentes distantes, e que são similares quando comparado com grupo formado por seus pais.

“Diante disso, o conhecimento do hábito alimentar e o desenvolvimento de métodos de análises que comprovem concentrações inadequadas de peptídeos opiáceos derivados do glúten e da caseína ainda é um desafio”, afirma a pesquisadora. “São necessárias pesquisas para criar metodologias de análise de peptídeos opióides em fluidos corpóreos mais confiáveis, passíveis de reprodução. Na literatura, os resultados positivos obtidos em estudos não são replicáveis, formando lacuna para a compreensão da relação entre alimentação e comportamento autista”, conclui.

Para Jocelem Mastrodi Salgado, orientadora do estudo, “a importância dessa pesquisa é mostrar que tanto o conhecimento como a compreensão dos fatores associados à patologia e ao emprego de exames laboratoriais seguros irão contribuir para diagnóstico precoce da doença, possibilitando o acesso a tratamentos mais adequados. Esses tratamentos, sem dúvida alguma, acarretarão a melhora da qualidade de vida dos autistas”.

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